Releio, trecho a trecho, tudo o por mim já escrito
Naquela relação por entre o sono e a vida.
Desfolho, lentamente, o sonho onde habito
Num bem-me-quer absorto, da corola ressequida.
Releio essas saudades de um tempo tão vulgar,
Tão cheio de um vazio de alma, num cansaço
Maior que a própria alma da qual fiz o meu lar…
O casebre de mim de que atalaia faço.
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2 Junho 16
12,05 h
Vivo à beira do tédio, falésia, a cumeada
de onde se avista o mar e a aldeia onde nasci.
Passeio a inconsciência de espuma debruada
para lugar nenhum…e fico por aqui.
Vivo à beira do tédio. Quem vive como eu
nunca chega a morrer… Ausenta-se somente.
É esta a eternidade que a vida me ofereceu;
falésia do que somos; dos outros tão diferente.
Tomo por realidade as coisas que o não são
tal como a sombra errante nas margens deste rio…
pelas cidades antigas onde, pelas pedras, estão
segredos dos amantes, musgo de chuva e frio.
As misérias de um homem num pálio de ouro e morte;
sou feito de ruínas, de paisagens difusas
num mapa todo ao Sul, mesmo se estou pelo Norte,
pois amo, com os olhos, este estertor das musas.
Tomo por realidade o que, daqui, avisto;
o pasto ressequido, maior que a minha altura…
pois que um poeta é, sempre, maior que tudo isto;
sou coisas que o não são…daí a desventura.
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2 junho 16
12,15 h
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