Nos últimos tempos e no âmbito de um trabalho que estou a levar a cabo, tenho saído frequentemente aos sábados à tarde.
Por uma questão de manutenção, tenho muitas vezes levado um Ford Cortina de 1965.
Gosto de carros clássicos.
São porventura uma peça móvel da história do mais apaixonante objecto desenvolvido pelo Homem.
O automóvel.
O Cortina é um exemplo dessa história e faz parte por direito próprio, quer da história da industria automóvel inglesa, quer da história da Ford Europe.
Prova disso é o facto de um dos maiores compositores pop de todos os tempos, um senhor chamado Elton John, na sua música “I was made in England”, dizer “I was made in England, like a blue Cortina”.
Elucidativo.
O concelho de Alenquer é o sítio ideal para se passear num clássico.
Apresenta uma variedade enorme de paisagens, que vão desde a montanha até praticamente à grande lezíria do Tejo.
É muito gratificante para a alma, subir ao cimo do Montejunto e ver numa perspectiva de 360 graus, uma paisagem multicor e deslumbrante.
Como é fantástico levar o velho Cortina até ao Tejo, e sentir o vigor do maior Rio Ibérico, sentado nas suas margens.
Nesta altura e após as vindimas, as vinhas ficam com uma cor lindíssima e parecem quando vistas de longe, verdadeiros tapetes acobreados.
O velho Ford, cujo motor Kent nascido nas oficinas de Boreham já vai fazendo um esforço para se arrastar, é testemunha de que ás Portas de Lisboa, existe um concelho que vale a pena conhecer.
Seguindo pela estrada florestal que liga Vila Verde dos Francos à serra do Montejunto, encontramos casas dispersas pela montanha, vinhedos, rebanhos e pastores, ruínas de antigas adegas, Quintas primorosamente preservadas e um núcleo de Moinhos porventura única no país.
Num espaço de 900 metros, 6 moinhos a funcionar.
É quase mágico ver e ouvir o som dos búzios enquanto comemos um pão com chouriço feito na hora.
Descendo pelo lado de Abrigada, vamos encontrar o antigo troço do Rally de Portugal.
A nostalgia daquele que foi durante 20 anos, o ponto de encontro de milhares de pessoas fanáticas por desporto motorizado.
Lembro-me com saudade do som dos Audi quattro, dos Escort´s RS 1800, dos 131 Abarth, dos Ascona 400, entre tantos outros que vi ao vivo.
Aí velhas casas dos guardas florestais testemunham a grandeza do espaço.
Instalações pecuárias, fabris, adegas e quintas a perder de vista, provam o vigor das gentes que por ali trabalharam.
A antiga estrada Nacional 1, que orgulhosamente ligava Lisboa ao Porto, encontra-se ainda cheia de vida e diariamente são milhares os automóveis e camiões que a percorrem.
A velha Base Aérea é hoje um centro de formação.
Das suas pistas já não levantam os T33, T37, os Fiat G91, ou os F-86 com cicatrizes da Guerra da Coreia.
Na sua pista principal, o Ford ronca a plenos pulmões.
A industria inglesa no seu apogeu.
Alenquer surge por fim.
O casario branco em anfiteatro misturado com o verde da vegetação, enquadra-se na perfeição com o “Ermine White” e o “Sherwood Green” do Cortina que agora percorre as suas ruas.
Ao longe as torres de refrigeração da Termoeléctrica dão um ar de modernidade ao horizonte.
No cimo da subida do Brandão o velho motor arfa de esforço.
É altura de parar.
De contemplar.
De nos sentirmos esmagados pela paisagem.
O pre-x-flow arranca de novo.
Até casa.
As sombras da paisagem são agora postas a nu pela luz dos faróis.
Quintas, Vinhas, Aldeias quase medievais.
Aldeia Galega, Merceana e o seu imponente santuário.
A serra Galega e os geradores eólicos.
Labrugeira e a sua adega cooperativa, onde se produzem verdadeiros néctares.
A serra do Montejunto como elemento dominante da paisagem.
Capelas em lugares ermos.
Os moinhos de novo no horizonte.
O Ford chega por fim a casa.
Uma ultima mudança fá-lo arrancar uma ultima vez.
A chave que o desliga, há-de voltar a despertá-lo.
Para mais uma viagem.
Para mais uma história.
Para mais um passeio de sonho.
Conheça o Ford Cortina, através deste álbum de fotografias:
Conheça as paisagens do concelho de Alenquer, através deste álbum de fotografias:
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