A Igreja Matriz de Dornes com invocação de Nossa Senhora do Pranto e pela qual também é conhecida, está situada no ponto mais alto de Dornes a poucos metros da Torre Pentagonal…
Segundo testemunhos documentais, este templo remonta ao século XIII e foi mandado edificar pela Rainha Santa Isabel, uma vez que esta monarca era senhora da terra.
Reconstruído em 1453, e com outras reformas nos séculos posteriores, que contribuíram para a sua total modificação…
A fachada de frontão triangular, ladeado por dois pináculos, é antecedida por um lanço de escadas permitindo a entrada no templo.
No interior, o teto da nave é forrado a madeira, sendo o da capela-mor em abóbada, formado por quarenta e dois caixotões.
O acesso é feito por um arco de volta perfeita, e por um desnível de dois degraus.
A igreja de Nossa Senhora do Pranto encontra-se totalmente revestida a azulejo.
De facto, entre o conjunto de monumentos religiosos existentes no concelho de Ferreira do Zêzere dotados de património azulejar, este é o mais rico.
O tapete de azulejo reveste, integralmente toda igreja…
É dentro da igreja que se encontra o famoso órgão…
O Órgão de Tubos do Santuário de Nossa Senhora do Pranto é um instrumento com características únicas.
Com autoria desconhecida, foi construído no século XVIII e foi trazido de outra igreja ou mosteiro para Dornes.
Esteve várias décadas em silêncio devido ao estado degradado natural do tempo, porém a maioria dos 715 tubos permaneciam no seu interior.
Em 2001 começaram os trabalhos de recuperação, da responsabilidade do mestre organeiro Pedro Guimarães.
Desde daí já existiram momentos musicais extraordinários com a presença de alguns dos melhores organistas portugueses e estrangeiros…
A Igreja de Nossa Senhora do Pranto está classificada como Imóvel de Interesse Público.
Como curiosidade deixo-vos a lenda de Nossa Senhora do Pranto:
Conta-se que um cavaleiro chamado Guilherme de Pavia, certa vez, passou a pé enxuto o rio Zêzere, caminhando de uma margem para a outra sobre a sua capa, que lançara sobre as águas.
Um dia, andava Guilherme de Pavia atrás de um veado na banda de além do Zêzere, onde só havia brenhas e matos espessos, quando ouviu uns gemidos muito dolorosos.
Tentou saber de que sítio provinham e, apesar de perder algumas horas nesta busca, nada conseguiu achar, pois os gemidos pareciam provir dos mais diversos locais.
No dia seguinte voltou ali e de novo os gemidos se espalharam à sua volta, vindo agora de um tufo espesso de mato, depois de um rochedo, numa ciranda sem fim.
Guilherme de Pavia sofria espantado, partilhando a dor daquele alguém que parecia fazer parte do universo.
Ao terceiro dia tudo se repetiu como antes.
Tomou, pois, a decisão de partir para Coimbra onde estava a sua senhora, a fim de lhe relatar aqueles estranhos factos.
Assim que chegou à cidade dirigiu-se imediatamente à pousada real e solicitou a sua visita a D. Isabel.
Esta, mal o viu, e depois das saudações devidas, disse-lhe:
– Vindes por via dos gemidos, Guilherme?
– …!
– Não precisais espantar-vos! Três noites a fio sonhei com eles e sei do que se trata.
– O que é então, Senhora? Procurei por todo o lado e nada vi!…
– Bem sei. Deus contou-me tudo nos sonhos. Agora vais voltar ao local e procurar onde te vou dizer: aí acharás uma imagem santa de Nossa Senhora, com o Filho morto em seus braços.
– Assim farei, minha senhora Dona Isabel! Mas, e depois, que faço eu dessa imagem?
– Guardá-la-ás contigo até me veres chegar junto a ti!
Despediu-se Guilherme de Pavia da Rainha Santa, levando na memória a localização exacta da moita onde a imagem de Nossa Senhora o aguardava gemendo, e partiu de Coimbra.
Já de volta a terras do Zêzere, o cavaleiro dirigiu-se à serra de Vermelha, como lhe dissera D. Isabel, e foi milagrosamente direito a determinada moita onde achou enrodilhada em urzes a imagem da Virgem pranteando a morte de seu Filho.
Durante algum tempo manteve-a consigo, na sua própria casa.
Os gemidos haviam cessado e assim Guilherme de Pavia tinha a Santa Imagem na sua câmara, com um archote aceso de cada lado.
Um dia, a Rainha Santa foi, finalmente, às suas terras do Zêzere resolver o caso da imagem.
Assim, junto a uma velha torre pentagonal que já aí existia, mandou erigir uma ermida para a Virgem achada nas moitas.
E nessa torre – que provavelmente foi construída pelos Templários -, ordenou que se instalassem os sinos da ermida.
Em breve o povo começou a construir casas em redor da capela e da torre e, diz a lenda, a Rainha Santa deu a essa vila nascente o nome de Vila das Dores, nome que com o tempo se teria corrompido até dar Dornes.
É isto o que conta a lenda transcrita no velho manuscrito.
A capela com a sua torre sineira ainda hoje existem, e a imagem achada há muitos séculos atrás é venerada sob a designação de Nossa Senhora do Pranto.
(in Frazão, Fernanda. “Lendas Portuguesas”, vol. IV, pág. 75-79. Ed. Multilar. Lisboa: 1988)
A península de Dornes espera por vós…
Visitem Dornes com toda a sua riqueza natural e patrimonial…
Siga o álbum de fotografias que preparamos desta viagem riquíssima de conhecimento…
Já conhece esta igreja?
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