Há já muito tempo que tinha uma curiosidade enorme em conhecer como seria feito o xaile de pelo de cabra.
Dei por mim a pensar, aquilo será mesmo de pelo de cabra…
Entre muitos outros pensamentos que tive, e os xailes não me saiam da ideia.
Tinha conhecimento de um grupo Coral em Montalvão que atuavam com esses xailes, para demarcar o orgulho que sentem pelo xaile de pelo de cabra.
Foi então que procurei quem me pudesse mostrar as raízes do xaile de pelo de cabra.
E então fiz mais um passeio à bonita vila de Montalvão…
História do xaile e seu enquadramento

Sabemos que os primeiros xailes vieram para a Europa no séc. XVIII, provenientes de Caxemira, na Índia, “descobertos” por viajantes (principalmente ingleses) que os traziam como presentes para esposas, mães e filhas.
Em França causou inveja e em breve as mulheres elegantes procuraram por todo os meios obter o seu próprio xaile de Caxemira.
Os xailes tornaram-se o desejo de qualquer dama elegante da Europa e América.
A raridade, elevado preço e muita procura fomenta o surgimento de imitações em França, Alemanha e Inglaterra, produzidas com lã de cabra, lã merina, de seda e de algodão.
Em Montalvão ao longo de muitos tempos a indumentária de casamento era feita de um xaile de pelo de cabra creme, com as virolas em rosa e verde, acompanhados de uma saia comprida.
Sendo peças únicas e feitas através de materiais nobres, o seu preço era altíssimo para a altura e nem todas as pessoas o podiam ter.
Era o traje mais majestoso da vila naquela altura.
A tradição dos xailes na região envolvente

Existe no concelho de Nisa uma tradição muito vincada à arte do xaile.
Mulher que se preze em Nisa tem que ter ou fazer o seu próprio xaile.
São xailes bordados em ponto de cadeia…
Os mais usuais são os brancos e pretos com motivos florais, acompanhado da saia vermelha com aplicação de feltro.
Fazem o traje típico da vila de Nisa.
Em tempos era usado para o dia do casamento.
Agora é mostrado durante a quinta feira de comadres, todas se juntam e desfilam com o seu xaile…
Mas o xaile de pelo de cabra em nada se parece com os outros xailes que são executados com tecido.
Este é uma junção de virolas, que todas juntas dão vida ao xaile.
São entre voltas e virolas nas linhas de pelo de cabra que o encanto do xaile aparece, as cores mais comuns e mais típicas são o creme, com motivos em rosa e verde.
Mas nos dias de hoje já se fazem consoante o gosto de cada um, são executados em qualquer cor.
Basta existir criatividade e vontade para o executar…
Reaparecimento do xaile de pelo de cabra em Montalvão
Contou-me a dona Cecília que a arte do xaile bordado com o pelo da cabra há alguns anos que estava um pouco esquecida.
Mas que com a criação do grupo coral encanto, todas as senhoras adquiriram ou fizeram o seu próprio xaile.
Prova que o tradicional está sempre presente por muito tempo que passe, é sempre apreciado pelas gerações mais jovens.
Uma tradição é algo que se transmite de geração em geração e que define o carácter e a personalidade de um povo, a alma de um país.
Foi a dona Cecília que sozinha fez o seu primeiro xaile, nos seus tempos de juventude, só as pessoas mais ricas poderiam ter um xaile.
Muitas vezes os xailes chegavam a custar 80 contos, e como a sua mãe não tinha possibilidades para o adquirir, ela conseguiu faze-lo sozinha.
Foi através de uma sua prima que conseguiu ver como era feito.
Desenhou a forma com que viu a sua prima fazer e pediu para lhe fazerem uma forma em ferro igual.
Depois de ter a forma, aos poucos, fez o seu primeiro xaile.
Como se não bastasse quis ensinar a mais gente de Montalvão, uma vez que ela já sabia fazer poderia ensinar a mais gente, para que tenham os seus xailes de pelo de cabra.
Tivemos um bocadinho da nossa tarde muito agradável na companhia da dona Cecília, foi entre conversas que nos explicou todos os detalhes do pelo de cabra e os processos que a tradição passou.

Foi sem dúvida uma boa lição de persuasão, que adquirimos para que a tradição de um xaile tão precioso não se perca.
O bem receber de todos os alentejanos é bastante conhecido, mas depois existem pessoas ainda mais especiais.
Já nos preparávamos para arrumar o material foi então que a dona Cecília nos disse “venham ca beber uma coisinha fresca e comer uns bolinhos”, nós fomos e bem que nos soube…
Também na casa da D. Cecília conhecemos alguns dos trabalhos magníficos do seu marido.
Peças incríveis em cortiça, a arte de a trabalhar ganhando forma monumentos como a igreja de Montalvão.
Tão minuciosos lindos que ficam para um bom apreciador daquela arte…
Entre as carroças com os burros, os utensílios de trabalho no campo…
Não pudemos ver mais artigos em cortiça porque se encontravam noutro local.
Ficou prometida uma nova visita.
Iremos voltar dona Cecília!
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