É breve, como as rosas, o rubor da paixão
Que o tempo se encarrega e o fogo apazigua
Pondo, no seu lugar, o amor e a razão;
Dócil toque dos dedos esculpindo a pele nua.
É breve, como as rosas, o incêndio dos sentidos,
Paixão que desvanece e após o amor advém
A amizade serena sentida por alguém…
Da sísmica partilha dos anos já vividos.
Casa
27 maio 16
16.10 h
Mistico-panteista
1
Vem! Traz-me esse fascínio das almas mais propensas
A conquistar espaços além da “realidade”
E oferece a lucidez com que esta essência adensas;
O estado em que não penso, sou livre, de verdade.
Vem! Tudo o que não sei que nome te hei-de pôr
Mas que pressinto em mim, na presença constante…
Que eu vivo sem viver se acaso estás distante…
Vem! Fascínio irmanado da mais singela flor.
2
Vem! Que te invoco e traz essa alegria plena
Que projecta estes olhos até onde se avista
Que almejo esse outro “ olhar” na oferta por conquista
Que “algo” dentro de mim me exige e “ isto” me ordena.
Ó místico pendor, telúricos segredos
Vogando pelo céu, deslizando pelo espaço…
Vem! Que este dom que é meu não sou eu bem que o faço;
Sangrando da caneta por entre os magros dedos.
3
Faça-se em mim, então, uma vontade extrema
Na gleba das palavras, dos sons, da melodia
Para que regresse à alma o que na alma havia;
A génese do ser… num trivial poema.
Vem! Que te peço agora mas, desta vez, carpindo;
Desterrado do mundo, destas “ certezas” vis…
E põe no meu semblante o riso do petiz
Que eu fui há tantos anos; ingénuo, puro e lindo.
Roubar dos deuses fogo e pô-lo em nosso peito..
Ó meu gesto impensado, ó meu gesto infantil…
Agora? Sou eu mesmo o pastor e o redil,
Rebanho tresmalhado… sonho vital, desfeito
27 maio 16
19.05 h